Olá amigos, calculo que tenhais aqui chegado, seguindo o convite e sugestão do meu irmão, o trapalhão do Alcino. Eu chamo-lhe trapalhão, já desde pequeno, que foi quando ele começou a andar com aquele ar aluado e sempre a falar em verso. Os meus pais diziam que ele era uma criança distraída, mas a professora da escola sempre soube que o meu irmão estava destinado a outros voos e até meteu uma cunha para ele ir para a Força Aérea, mas chumbou, por causa dos óculos.


Eu, como vêem, já desde pequeno que me deu mais para a História da Humanidade, a começar pela que vivia lá em casa, nomeadamente. E sempre o fiz na certeza porém. Como Dumas pai e Doutras filho, sempre persegui a verdade e não fui em comboios, nem mesmo depois de já os terem inventado.

E, como entrada, já chega de melão com presunto e vamos ao assunto.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014


E hoje, meus amigos, volto a falar-vos de s. Vicente, o padroeiro da cidade de Lisboa e grande amigo dos animais, menos dos cães.

Já vos contei como chegaram a Lisboa as relíquias sagradas. Enfim, quando chegaram eram só um punhado de ossos, recolhidos nas circunstâncias rocambolescas que já sabeis.

Quanto ao resto, também a história que se conta está longe da verdade. 
O secretismo com que toda a operação foi feita, já em terra. A forma atribulada como as relíquias foram levadas de um sítio para outro e até o aproveitamento político do rei de todo o fenómeno de massas que a coisa gerou... Tudo tanga. Àquela hora estava tudo a dormir. E os que não estavam, estavam bêbados demais para se chatearem. De facto, houve algum reboliço popular nessa noite, mas não foi por isso. E como não foi por isso, não interessa saber porque é que foi.
Já o rei... Estais a ver o rei a ralar-se com merdas dessas? Ou a ter inteligência, um labrego daqueles, para fazer jogadas políticas? Estávamos na Idade Média, porra. Ainda não havia tecnologia para isso!
A verdade é que aquilo a que se ficou a chamar "as relíquias do santo" lá foram parar à Sé. Mas foi só por uma razão. Porque já estavam fartos de andar com aquilo às costas e não tiveram para subir o resto da rua até ao castelo e porque lá no castelo os cães davam conta daquilo num instante. E na Sé não entram cães.
Nem os cães sarracenos, por razões óbvias, nem os pastores alemães. Aliás, o padre era galego.

A história dos corvos também está muito mal contada.
Eram papagaios. Três.
Lá no Algarve eram melros, mas em Lisboa eram papagaios.
Três papagaios que fugiram de uma barbearia e que se juntaram ao cortejo. Que o papagaio é um bicho muito sociável.
O que acontece é que, como era de noite, os confundiram com corvos. Como se sabe - de noite, todos os papagaios são corvos. É um provérbio antigo.
Também é verdade que a partir daí os comerciantes de Lisboa começaram a ter corvos vivos à porta das lojas. Diziam que era para protecção. E era. Por causa da rataria. Só isso.
Já os corvos que começaram a habitar a Sé de Lisboa. Mentira uma vez mais. Eram andorinhas que entravam pelo telhado. Com o efeito das luzes pareciam corvos. Mas eram andorinhas.
E podia contar-vos mais alguns pormenores inéditos, da história de s. Vicente, mas não o faço já, porque ainda não almocei desde que vim do Algarve.  

sábado, 19 de outubro de 2013

Nada disso, eu é que sei.
Aquilo na altura ainda nem se chamava cabo de s. Vicente, nem havia corvos, só melros, que é mais pequeno e tem o bico amarelo. Distinguem-se bem, mas, como era de noite quando lá chegaram e os melros também são pretos, pensaram que eram corvos marinhos algarvios, que são mais pequenos, por causa do ar do mar, que mirra.
Mas, nem foram os melros, o que os assustou e fez largar tudo e fugir com o que tinham. Foram os cães sarracenos, que desataram a ladrar e acordaram os aldeões moçárabes que guardavam a sepultura do santo.
Estavam eles portanto de cu para o ar a escavar a sepultura do mártir s. Vicente, para o levar para Lisboa, como mandatário da candidatura de Afonso Henriques a dono da cidade, quando os cães desataram a ladrar. Aí largaram tudo e desataram a correr em direcção à praia e à frágil embarcação que os trouxera até ali. Cada um levava o que tinha podido apanhar. Um, uma tíbia do santo, outro um dedo do pé, um outro, um osso de galinha, por engano...  Para trás deixavam a sepultura aberta e revolvida e restos do esqueleto espalhados pelo chão. 
Foi isso, aliás, o que aquietou os cães e lhes permitiu sair dali em segurança.

Pelo caminho, cansados e emocionados com o susto, adormeceram. Também as garrafas de medronho que, entretanto, roubaram de uma barraca, na praia, ajudou à moleza. 
Enquanto dormiam e atraídos pela santidade que emanava dos ossos que seguiam, ao monte e no meio de uns restos de peixe, no fundo do barco... dois anjos desceram do céu e poisaram, um à popa, outro à proa e puseram-se a balançar a frágil embarcação, com a intenção de fazê-la virar e resgatar a relíquia sagrada e levá-la para o reino da Glória. Como se sabe, no Céu não há brinquedos e os querubins brincam com os ossos dos santos e outras relíquias sagradas. E velas. Fósforos é que não. Só velas.
Mas, voltemos à nossa barca. Com os balanços, os tripulantes acordaram. Acordaram naturalmente mal dispostos. Depois de todos terem vomitado, voltaram-se uns para os outros, espantados. Que diabo, o mar está tão calmo, como é que o barco abana tanto. Foi quando viram, à proa e popa do barco os dois seres alados, que entretanto se tinham transformado em corvos, para não serem identificados, nem mandados borda fora. Que os anjos voam, mas não sabem nadar. Isso é os patos é que fazem. 
E transformaram-se em corvos e não em pombas, por duas razões. Uma é o respeito. Pomba é pássaro que está reservado às altas patentes. E depois, em corvos, sabiam eles que os marinheiros acreditavam. Jogaram pelo seguro. E, para além disso, corvos são pretos. Pombas são brancas. E o branco suja-se mais.
Enfim, quando viram os corvos, olharam todos para o capitão e perguntaram ao mesmo tempo: olha lá, estes não são os corvos do teu pai?
O mestre olhou e disse: são pois.
Eh pá! - todos em coro - isso quer dizer que estamos a chegar a Lisboa!
E estavam.
E assim é que foi.   

terça-feira, 14 de julho de 2009

"E os camelos caem sempre" - a verdadeira história do Elefante de Tróia -


Ora aí está. E os camelos caem sempre. A história do Elefante de Tróia é prova disso mesmo.
A coisa deu-se foi assim. Uma manhã acordaram e quando chegaram à praia estava lá um elefante do tamanho de um prédio da Torralta. Ora porra, exclamaram os banhistas, observando em uníssono a bizarma criatura, um elefante na praia!?... Toda a península de Tróia, fronteira à bela vila de Setúbal era uma popular estância de banhos e solários para gentes das 7 partidas que ali chegavam. De um lado a harmoniosa foz do Sado e do outro o mar imenso e muito azul. Mas não tinha elefantes.
O súbito aparecimento daquela monumental presença em pleno areal e logo pela fresca, deixou-os a ferver de curiosidade e temor.
Houve quem pensasse mandar-lhe pacotes de amendoins e gasosas para o assustar e mandar embora. Mas a bizarma não se mexia nem intimidava, permanecendo quieto e enorme, de tromba caída para a areia.
Passou-se um dia e outro e quase uma semana depois, o filho da mãe do trombalazanas ainda lá estava de plantão, no meio da praia. Foi quando as gentes começaram a ir-se embora, fartos daquela presença estúpida e incómoda.
Quando todos se tinham ido já embora, foi quando uma porta se abriu e Belmiro, o Vesgo saiu com ar triunfante, assomando no alto, no pequeno palanque instalado no dorso da besta.
Olhando em redor com ar sonhador e distante, estendeu o braço com majestade e disse em voz alta: "ali, vai ser um hipermercado, acolá, uma casa de putas..."
E assim é que foi, que por causa disso é que eu nunca mais fui a banhos a Tróia.

Rés-vés e uma vaca em pontas


Nada disso!
Quando foi do terramoto de 1755, a família real mudou-se foi para o campo. Para um descampado, para não apanhar com tijolos em cima. No campo, o pior que lhes podia acontecer era acordarem com uma vaca deitada na cama. Por isso é que penduraram a cama numa árvore.

Palavra de Germano
e caia já aqui, se não me engano

segunda-feira, 13 de julho de 2009

EXCLUSIVO E CHOCANTE

A revelação é chocante e promete incendiar opiniões. Documentos encontrados no entulho de umas obras no Gingal revelam a evidência do que estava oculto, naquilo que já se conhecia, antes de se saber agora isto.
Não foi o patriotismo, nem as alucinações paranóicas provocadas pelos excessos opiáceos, o que levou Manuel de Sousa Coutinho a pegar fogo à casa e ir para frade.
Enfim, o ir para frade já era cisma, agora o pegar fogo à casa foi para receber o seguro contra incêndios. Que, naquela altura, as peritagens ainda davam os primeiros passos e era fácil dar-lhes a volta.
Apesar da inequívoca prova, que os documentos achados representam e consubstanciam, há ainda quem sempre ateime, que M.S. Coutinho pegou fogo à casa, para se livrar da família e ter uma desculpa para se meter num convento, onde podia embebedar-se à vontade e dormir até tarde sem que o chateassem. Se lhe estranhavam a ausência e batiam à porta da cela, respondia debaixo das mantas que estava a rezar e lá o deixavam dormir mais um bocadinho.
Quanto à mariquice de mudar de nome... respeitinho, que o Cassius Clay também não se chamava assim! Isso é coisa de pugilistas.

sábado, 11 de julho de 2009

já antigamente não era à Baalda


Nada disso! Isto era as placas que havia à porta das casas de banho, nas cavernas públicas. A dos homens é a que tem o burro de cinco patas, lá atrás.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

feitios...

Agora vou-vos contar uma parte que vocês vão-se rir. O sultão Ahmed Mohammed telefonou ao rei Filipe I e disse-lhe: "Olha, temos aqui um gajo, vai para 3 anos, que só come e dorme e reza de cu para o ar e põe-se com mariquices quando a gente o manda tomar banho e não come cuscus... Queres que a gente lhe dê um tiro e tu depois dizes aí que ele desapareceu?..."

O rei Filipe I respondeu logo: "Faz isso, que eu cá me amanho com a Imprensa."

Arranjaram um sem abrigo, deram-lhe banho, de comer, vestiram-no, calçaram-no e cortaram-lhe as goelas. Depois fizeram uma cena em mármore com dois elefantes de pedra, construíram o mosteiro dos Jerónimos à volta e meteram-no lá dentro. Pronto. Acabou-se. Morreu. Não há sebastianices p’ra ninguém. O povo achou graça, aclamou e deixou ficar os Filipes mais dois mandatos.

Entretanto o sultão Ahmed Mohammed tinha ficado literalmente com a criança no colo. Que o puto era uma criança. E não sabia o que fazer com ele, mas teve uma ideia. O problema é que o diabo do Al Zheimer, o profeta do esquecimento, apareceu entretanto e ele distraíu-se à conversa e esqueceu-se do que se tinha lembrado. Entretanto o outro já começava a feder. Resolveram então metê-lo em salmoura e mandá-lo para Espanha, disfarçado de bacalhau seco. Quando lá chegou ainda cheirava, mas, no bacalhau isso é normal.

Deuladeu, mas sem manteiga

Não senhor, está parvo ou quê, boa tarde amigos, sou eu.

Desta feita convido-vos a recuar a esse saudoso ano de 1369, tinha o rei D. Fernando saído para ir desancar os castelhanos, que já se estavam outra vez a esticar, andava a mulher do alcaide às couves, quando o castelo foi cercado pelo galego do Sarmento, um bêbado.

Até aqui é tudo verdade, o mesmo para a história que se dizia que o galego queria era conversa, mas como a mulher do alcaide não lhe dava troco, ele montou cerco à vila, de pirraça. A coisa prometia arrastar-se. Os galegos não tinham pressa e em Monção estava-se bem. Melhor que em Compostela, que aquilo no Verão não se pode, com os turistas. O problema era a comida. Não estavam habituados e estranharam. Começaram a refilar e a fazer birra, até que o Sarmento teve de pedir à Deuladeu que lhe orientasse, ao menos, uns papo-secos, que os homens não se estavam a dar com o caldo verde e alguns até já estavam com desinteria e a cheirar mal. A mulher do alcaide, que não era parva, teve uma ideia para se livrar daquela cambada e chegou-se à muralha e disse: “Toma lá croissants, oh palhaço, e se quiseres a mantequilla, vai pela porta da cozinha!”

E eles foram. Como a porta era estreita, tinham de entrar um de cada vez, o que era óptimo para a Deuladeu lhes dar com um chuço na nuca e pô-los a dormir, logo ali naquele instante*.

A coisa passou-se e eles nunca mais vinham e os outros pensavam que estavam na cozinha a alancar que nem galegos e deixavam-se ficar à espera de vez. Foi quando a Deuladeu voltou a subir ao alto da muralha e disse: “Olha, acabou-se a manteiga, podem-se ir embora!”. E eles foram.

E assim é que foi.

Boa noite.

*Locução célebre do não menos idem Júlio, o das Farturas

terça-feira, 7 de julho de 2009

Brites de Almeida a súmula da sêmola

Qual o quê!...A Brites era uma agarrada. Já no Verão, lá no Algarve, era a mais maluca delas todas. Feia como a trovoada, só lhe faltava o bigode, mas a despachar hambúrgueres no pão e minis p’lo gargalo, já metia respeito. Diz-se que foi lá que apanhou o vício, outros dizem que a culpa foi dos marroquinos e da rebaldaria que foi lá pela Mauritânia, naquelas raves e chás no deserto. O certo é que, quando chegou a Aljubarrota e fez a cama ao desgraçado, já tinha o vício no corpo. O facto de ter seis dedos em cada mão ajudou-a muito quando decidiu abrir uma taberna, com padaria. Era menina para levar cinco copos de três em cada mão, entalados nos dedos e um prato com torresmos à cabeça, quando não, havia azeitonas.

Para amassar o pão não dava tanto jeito, mas ela amanhava-se com um pau e às vezes com os pés.

A história de ter morto sete espanhóis à paulada, ou com a pá do pão ou com um porrete ferrado, é mentira. Basta pensar um bocadinho para concluir que só uma besta é que punha a Brites a dar uma porrada no cachaço de um espanhol. Logo um espanhol, que é do melhor que há para fazer despesa numa tasca. E gastam muito pão, por causa das tapas. A Brites, nunca. Ela até dizia, a brincar: “Puta madre, que os espanhóis a beber parece que estão rotos!” E eles riam. Eu, às vezes, também. Ainda hoje.

onze anos depois...

Olá amigos, é o hermano do professor Saraiva quem vos fala. E queria nesta crónica falar-vos, precisamente, do início de tudo, do sublime acto criador, da cosmogonia deste mundo que é a história de Portugal aos quadradinhos. E limitar-me-ei aos factos, sem qualquer interpretação, porque isto não é o festival da canção:

Em 1122, era ainda D. Afonso Henriques chaval piqueno, o arcebispo de Braga, que dava pelo peculiar nome de João Peculiar, armou-o cavaleiro em Tui. Foi em Tui. Foi a primeira e a última vez que D. Afonso Henriques foi armado cavaleiro, porque daí em diante armou-se ele próprio em cavaleiro e foi até fartar, vilanagem! Na realidade, é a João Peculiar que devemos a nossa nacionalidade, porque foi ele que, quando foi expulso de Braga pela Dona Tareja, levou com ele o rapazola Afonso e o convenceu a fundar Portugal.

“Vossa mãe”, dizia ele ao rapaz, “é o que se vê, de tal maneira que os próprios historiadores não se põem de acordo sobre se vosso pai é vosso pai ou não. Os de agora, não, os que virão, que mais sabedores serão. O melhor que podeis fazer, D. Afonsinho, é fundar uma nação…”
“E se não for meu pai o meu pai, quem o será então?”
“Vosso aio, pois então...”
“O meu aio? Aio dele, se eu sei que ele pôs as mãos na minha mãe…”
“As mãos? Como sois ainda ingénuo, D. Afonsinho… E agora, parece que é o Fernão Peres… Ninguém a trava…”

Cinco anos mais tarde, Afonso Sétimo invadiu Portugal em Outubro, porque nessa época ainda não havia o costume, entre espanhóis, de invadirem Portugal pela Páscoa, e cercou Guimarães. Foi o aio (o talvez paio) do ex-petiz, Egas Moniz, que foi falar com o castelo-leonês e lhe garantiu que D. Afonso era certinho e que nem D. Teresa nem ele tinham razões para se preocupar. Mas era grupo. Logo passados poucos meses, o Afonso foi-se às tropas de mãe que nem leão (passe a expressão e a confusão que ela cria, pois que de Leão era a Teresa e não o seu filho) na Batalha de São Mamede. Chispa-te, Berengária Antónia, que o caso está feio, muita porrada levaram a Tareja e o Fernão!

Embora alguns historiadores identifiquem erroneamente o lugar da peleja com a localidade desse nome perto de Guimarães, a verdade é que o nome da batalha não tem nada a ver com o Campo de São Mamede, mas antes com o grito de guerra das tropas de Afonso Henriques: “A eles, que são uma merda!”. Como em tantos outros casos da nossa história, o proverbial pudor português depressa transformou esse injurioso grito de guerra no nome de um santo.

Mas deixemos isso agora. O que interessa é que, depois da vitória retumbante do Guimarães nesse espectacular desafio, Afonso Henriques assumiu definitivamente a chefia do Condado Portucalense, de que viria a fazer Portugal, paciência. Isto aconteceu 11 anos mais tarde, quando Henriques, veio a bufar cheio de speed dos lados do Casal Ventoso (ninguém sabe ao certo por quê, mas há muito quem especule…) e deu cabo dos Mouros em Campo de Ourique, ao pé do Jardim da Parada, que foi assim chamado por a mourama ficou toda parada a olhar para ele quando ele apareceu a bufar cheio de speed vindo do Casal Ventoso. Muitos historiadores afirmam que a Batalha de Ourique se deu antes no Alentejo, ou em muitos outros lugares, mas isso só mostra que não são de Lisboa, e muito menos do nosso querido bairro, senão não falavam assim. Mas pronto, depois da Batalha de Campo de Ourique à Estrela, Afonso Henriques fez uma declaração unilateral de independência, que o primo Afonso, esse grande Sétimo, acabou por reconhecer no tratado de Samora Correia, numa bela tarde de copos na cabana dos parodiantes de Lisboa em Salvaterra de Magos, a comer barretes e a beber tintinhos com mistura. Muitos historiadores postulam que este tratado foi assinado em Zamora, em Espanha, mas também por isso se vê que não são bons portugueses nem amigos da festa brava, porque Afonso Henriques, mesmo que estivesse com os copos, nunca assinaria tratados em Espanha e ainda menos numa terra começada por z. Isto de Samora foi em 1143, mas só passados 36 anos é que as Nações Unidas, na figura do seu Secretário-geral, Orlando Bandinelli, mas conhecido pela alcunha de Papa Alexandre III, reconheceram a independência da nova nação, a que, enfim, todos temos de pertencer, perdão, todos temos a honra de pertencer…

E foi assim. Foi assim que isto começou. Ah, mas nem sonhava ainda a neonata Portugalândia o que a esperava. E vós, sabeis o que a esperava? Não? Pois não percais então o terceiro capítulo desta emocionante aventura, brevemente nas bancas! Até lá, recebei um histérico abraço deste vosso histórico amigo, ou vice-versa,

Germano José Esse Magalhães Saraiva, o Hermano do Alcino

e no princípio era o vinho

Olá amigos, calculo que tenhais aqui chegado, seguindo o convite e sugestão do meu irmão, o trapalhão do Alcino. Eu chamo-lhe trapalhão, já desde pequeno, que foi quando ele começou a andar com aquele ar aluado e sempre a falar em verso. Os meus pais diziam que ele era uma criança distraída, mas a professora da escola sempre soube que o meu irmão estava destinado a outros voos e até meteu uma cunha para ele ir para a Força Aérea, mas chumbou, por causa dos óculos.

Eu, como vêem, já desde pequeno que me deu mais para a História da Humanidade, a começar pela que vivia lá em casa, nomeadamente.

E sempre o fiz na certeza porém. Como Dumas pai e Doutras filho, sempre persegui a verdade e não fui em comboios, nem mesmo depois de já os terem inventado.

E, como entrada, já chega de melão com presunto e vamos ao assunto.

Queria, antes de mais, dar-vos as boas vindas a este histriónico momento de História e desejar-vos as maiores felicidades, ao longo de toda esta série que, infelizmente, se prevê longa ela também.

Vamos começar pelo princípio e, como aqui acontecerá muitas vezes, vamos pôr em causa a historiografia mais costumeira, com base nas mais ultimíssimas investigações que se vão fazendo neste campo de Ourique da história. Desta vez, dar-vos-ei conta de um documento romano escrito em latim das docas, encontrado na Britânia dos Citeiros, ao pé da Sampilhosa da Perra, num distrito, dentro de uma ânfora de vinho a martelo, A tradução foi muito difícil, porque, como se sabe, os romanos trocavam os uu por vv, mais ainda quando eram das docas, e faziam, portanto, uinho com vuas, o que, parecendo que não, é uma grande confusão, mesmo para um historiador da minha craveira (ou péclisse, como também se lhe chama). Mas vamos então ao documento propriamente dito:

Qual quê! Viriato era um bêbado. Trabalhar nunca foi com ele. Quando o pai morreu e lhe deixou as vacas, a primeira coisa que pensou foi vendê-las para hambúrgueres e derreter o dinheiro na borga com o resto da rapaziada. O que lhe valeu é que o pai tinha-lhe deixado muitas vacas e a vida era barata, naquela altura. Mesmo assim, com denodo e muito pão, lá foi, com a aplicada ajuda dos camaradas, delapidando a fortuna paterna, em alegres canecos do espiche. Aos fins-de-semana, desciam da serra para lançar o pandemónio na cidade. Corriam as tascas todas, numa algazarra dos infernos, metendo-se com as velhas e com as novas que viam nas ruas. Jogando pedras aos cães, insultando os soldados romanos que patrulhavam os cruzamentos e montavam guarda às lojas de penhores. Quando já estava tudo grosso, começava a pouca vergonha. Não havia caixote do lixo que ficasse em pé, nem montra que ficasse inteira. Para acabar a noite iam às putas. Às termas romanas, como eles diziam. Uma cambada de porcos. O que a minha irmã lhes aturou, por Jove!

E foi assim. Espero que tenhais ficado mais esclarecidos sobre as proto-origens da nossa nacionalidade e sobre a personalidade ímpar do primeiro grande dirigente deste grandioso clube de futebol que é a nossa pátria lusitana. Não percais então o segundo capítulo desta emocionante aventura, brevemente nas bancas! Até lá, recebei um histérico abraço deste vosso histórico amigo, ou vice-versa,

Germano José Esse Magalhães Saraiva, o Hermano do Alcino, esse Magalhães, também.